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FOME 

“A cena era realmente difícil de ser filmada sem que o público percebesse a existência das três câmeras habilmente disfarçadas em caixas e árvores ao longo do passeio de uma rua do centro da grande cidade.”

 

Olympio Guilherme foi contratado pela “Fox Film” após ganhar o concurso de “novos talentos” realizado no Brasil em 1927.

Quando chega a Hollywood junto com sua protagonista Lia Torá (que tinha ganho o concurso feminino) percebe que na verdade eles não iriam participar de nenhum filme. Tudo tinha sido arranjado para que a industria de filme americana (Fox) tivesse uma entrada no mercado brasileiro.

A realidade vivida por Olympio em Hollywood levou-o a fazer um filme em que mostrava uma Hollywood diferente daquela que era propagada mundo afora

“...a Hollywood das estrelas, a Hollywood endomingada, espartilhada e perfumada, com uns ares compenetrados de symbolo, de synonimo da Felicidade em apotheose furta-côr de festa de arraial.

Essa Hollywood ditosa não a conheço eu, mísero photographo das figueiras. A Hollywood das minhas relações, a Hollywood que posou diante da minha caixa quadrada era u’a matrona circunspecta, fôva, de óculos, uma senhora muito séria, muito grave, trajada sem gosto, abraçada a um pão do tamanho de uma bola de futebol...”

Em face desta nova realidade, Olympio decidiu fazer um filme (mudo) que retratasse a Hollywood que ele e seus colegas vivenciaram. Surgiu então a ideia de produzir um filme no estilo realista que aconteceria envolvendo o registro das emoções e reações dos transeuntes  com câmeras escondidas.

O resultado das cenas quase sempre contrariava o script enriquecendo-o enormemente.

Cena da mamadeira

“A cena era realmente dificil de ser filmada sem que o publico percebesse a existência das três câmeras habilmente disfarçadas em caixas e árvores ao longo do passeio de uma rua no centro da cidade.

O “script” era simples, eu vendedor de minúsculos lulus, deveria roubar a mamadeira do berço de uma criança que por ali passasse, dando a impressão de que iria beber o leite destinado na verdade, aos cãezinhos.”

O Camelô

“No final da sequencia em que eu me apresentava como um “gentleman”, travei conhecimento com um camelô de lâminas de barbear, que me propôs um negócio: eu me deixaria barbear em público, por ele, vendedor de lâminas, mas com uma condição…”

Camelô de Fraque

“ De pronto ocorreu-me a ideia de acrescentar ao roteiro minha “Fome” a impressão curiosíssima dos transeuntes surpreendidos de frente e de costas.

Qual seria a reação fisionômica da gente do povo, que deparasse com um “gentleman” com seu elegante fraque e cartola, em plena rua, e logo vendo o figurão pelas costas, compreendesse que fora ludibriado pela influência da indumentária que cobria o pobre diabo...”

A última cena

“Com dois dólares ganhos com tamanho sacrifício, finalmente eu iria comer com dinheiro que não era de esmola.

Ali mesmo, em Santa Mônica, encontrei um desses minúsculos quiosques a beira mar, cuja modesta aparência por certo não me repeliria...”

“Faltavam dez minutos para a chegada do meu amigo, quando percebi que a moça se dispunha a atravessar a movimentadíssima pista do viaduto. Seria uma loucura...”

“…A mim, do outro lado da pista de automóveis só restava uma atitude: parar o tráfego a fim de poder atravessar a pista para evitar que a desgraçada consumasse seu trágico intento…”

Assassino
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